Por uma Igreja Sinodal na Diocese de Viseu | Comunhão, Participação, Missão

Proposta de síntese sinodal diocesana

Explicação: partilha-se a proposta sinodal diocesana de Viseu, já enviada à Conferência Episcopal Portuguesa, por razão de cumprimento do prazo. Os elementos da Comissão Sinodal Diocesana lamentam o facto de não ter sido possível partilhá-la com as pessoas que colaboraram mais de perto e com o público em geral, antecipadamente a este envio oficial, pedindo desculpa pelo atraso. Contudo, como o caminho sinodal não se quer ver terminado nem fechado, sugere-se que possa haver ressonâncias a esta proposta, para bem da renovação da nossa diocese de Viseu. As ressonâncias podem ser partilhadas através deste email: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Poderá descarregar esta síntese em PDF, aqui.

0) ENQUADRAMENTO

A Igreja de Deus é convocada em Sínodo. O caminho, intitulado «Para uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão», iniciado solenemente nos dias 9-10 de outubro de 2021, em Roma, e a 17 de outubro seguinte em cada uma das Igrejas particulares. Uma etapa fundamental será a celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023, a que se seguirá a fase de execução, que envolverá novamente as Igrejas particulares (cf. EC, art. 19-21).

Para este Sínodo, o Santo Padre introduziu uma novidade: pela primeira vez, na história dos sínodos, não limita o caminho à assembleia dos bispos, mas é precedido por uma consulta prévia aos diversos órgãos da Igreja universal. Para este Sínodo foi, por isso, criado um Documento Preparatório e, também, um Vadamecum para guiar o povo de Deus.

O Documento Preparatório põe-se ao serviço do caminho sinodal, de modo especial como instrumento para favorecer a primeira fase de escuta e consulta do Povo de Deus nas Igrejas particulares (outubro de 2021 – agosto de 2022), na esperança de contribuir para colocar em movimento as ideias, as energias e a criatividade de todos aqueles que participarem no itinerário, e facilitar a partilha dos frutos do seu compromisso. O Vademecum foi concebido como um manual que acompanha o Documento Preparatório ao serviço do percurso sinodal.

Esta Síntese Diocesana tem em conta os principais resultados recolhidos da auscultação por Paróquias, Unidades Pastorais, Arciprestados, Institutos Religiosos, outros Organismos Eclesiais e Outros, assim como iniciativas individuais. Esta proposta de Síntese Diocesana procura refletir a diversidade de pontos de vista expressos, sejam eles positivos ou negativos, numa perspetiva expressa pela maioria, mas inclui, também, os pontos de vista das minorias de participantes, procurando incluir os dados mais importantes do processo de auscultação das comunidades e outros organismos.

1) DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO

Na diocese de Viseu, o período da escuta sinodal aconteceu no tempo da Quaresma.

Para elaborar as perguntas colocadas no questionário, procurámos adaptar as questões dos dez núcleos temáticos apresentados no n.º 30 do Documento Preparatório à nossa realidade diocesana, deixando a resposta à questão fundamental do n.º 26 para a proposta de síntese diocesana. Esta tomada de posição justifica-se pela opção metodológica indutiva, partindo quer da realidade particular do público alvo, através do cuidado da linguagem, quer da diversidade de questões relativas à diversidade de temas com que a Igreja procura inculturar-se e evangelizar.

A recolha de informação fez-se essencialmente a partir das seguintes propostas, que cada comunidade, instituição ou movimento pôde escolher, adaptando à sua realidade: (1) uma tômbola dominical ou caixa de correio sinodal, onde os participantes das assembleias litúrgicas puderam ir colocando as respostas às perguntas que os párocos foram partilhando domingo após domingo; (2) o encontro de grupo, apresentado como a forma prioritária, tendo em conta a mais valia do diálogo espiritual, a partir da escuta da Palavra de Deus, da oração e do diálogo à volta das questões apresentadas; (3) os inquéritos on-line, lançados no sítio https://sinodo.diocesedeviseu.pt, elaborados com uma linguagem aberta a crentes e não crentes, e diferenciado para adultos, jovens e crianças, sendo que para estas se privilegiou a dinâmica do jogo, e em todos os casos o recurso à Escala de Likert para possibilitar uma leitura de gráficos, assim como espaços para resposta aberta; (4) a caixa de correio, dando aso à possibilidade de se partilhar o questionário sinodal nas caixas postais dos residentes nas paróquias, sugerindo a liberdade de responder e entregar os contributos nas sedes das mesmas; (5) Conversas Ca’Fé, possibilitando, a partir de um formulário on-line muito simples, que as pessoas pudessem fazer perguntas à Igreja. Nos casos de formulários on-line procurou-se a divulgação por QRcodes e nos casos de interação em grupos a divulgação do inquérito para impressão.

Em números, tendo em conta que na Diocese de Viseu temos 208 paróquias, no site do Sínodo inscreveram-se 68 Pessoas de Contacto, 55 de paróquias, 5 Secretariados, 5 Movimentos, 2 Instalações e 1 Instituto de Vida Consagrada. Recebemos as seguintes Sínteses: 38 paróquias, 2 Movimentos, 3 Jovens, 1 Instituto de Vida Consagrada, 3 Casais. Aos inquéritos on-line, recebemos as seguintes: 79 adultos, 141 jovens, 186 crianças.

As Pessoas de Contacto foram os principais mediadores para fazerem chegar as respostas à Comissão Diocesana do Sínodo, incluindo alguns párocos que o fizeram diretamente.

Não encontrámos rejeição dos participantes em responder às questões colocadas, embora algumas respostas revelem pouca reflexão ou desconhecimento. Foi significativa a participação nos inquéritos com base na atividade da catequese e aulas EMRC. Notou-se alguma incompreensão sobre o alcance das perguntas, provavelmente associado ao nível de escolaridade. As experiências de reflexão e escuta diferem quanto à demografia, tendo em conta a disparidade que existe entre paróquias urbanas e rurais.

O modelo de trabalho implementado pelo Bispo diocesano consistiu na nomeação de uma Comissão Diocesana de 9 elementos de algum modo representativos da realidade humana e vocacional da nossa Igreja particular. Começou por se lançar toda a documentação no sítio acima referido, onde consta uma linha de tempo, em que se apresentaram, para além das datas eclesiais da abertura do Sínodo, as balizas dos passos diocesanos, a saber: abertura nas paróquias e início do período de oração e formação; apresentação de subsídios (textos para a liturgia da festa do Batismo do Senhor, Catequese/Aula SDEC e EMRC, Reunião para Casais, Formação de Agentes da Pastoral Social e Imagens/Infografias); indicação de Pessoas de Contacto (um mês); período da escuta (dois meses, na Quaresma); entrega das sínteses por parte das pessoas de contacto (vésperas da Páscoa); elaboração da síntese diocesana e publicação da mesma (a partir do tempo pascal); por fim, entrega à Conferência Episcopal Portuguesa.

O período da escuta foi antecedido por visitas às reuniões arciprestais do clero, onde se fez o esclarecimento sobre todo o processo sinodal.

2) APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

2.1. Envolvimento e recetividade dos participantes

Manifesta-se a vontade de caminharmos juntos, a partir da consciência potenciada pela pandemia da Covid-19 de que estamos no mesmo barco e de que ninguém se salva sozinho, de que o Criador não nos abandona diante das fraturas e de que a humanidade ainda tem a capacidade de colaborar na construção da casa comum. Foi muito bem acolhida a importância da Palavra de Deus como ponto de partida a colocar no centro do caminho sinodal, sob a luz do Espírito Santo.

2.2. Temas mais debatidos

ACOMPANHANTES NO CAMINHO. A Igreja faz parte da nossa vida e podemos ter um papel dentro dela, se assim o desejarmos. Não se especifica que papel podemos ter ou, quando o fazem, referem apenas as situações relativas a funções que já têm, como a catequese, o coro, leitores, a limpeza e organização do espaço. A maioria das pessoas afirma que a Igreja apoia nos bons e maus momentos, embora não se especifique, havendo também quem declarasse não ter precisado desse apoio. Muitos referem-se à Igreja como espaço físico e não como comunidade, mencionando o aconchego que sentem nas celebrações e junto ao sacrário. Menciona-se a família, especialmente mães e avós, como um espaço ainda importante no acompanhamento da fé, sobretudo dos mais novos. A maioria entende que ninguém é excluído ou deixado à margem, mas há quem defenda que ainda há um longo caminho a percorrer na integração e inclusão de todos, sejam as pessoas divorciadas, o pai/mãe solteiros, as mulheres e a comunidade LGBT. Para muitos jovens, o padre não aparece como figura relevante no acompanhamento, apesar da sua relação íntima com Deus e Jesus Cristo.

ESCUTAR. Quanto à escuta, a respostas dividem-se entre as pessoas que se sentem escutadas nas suas opiniões e as que não se sentem escutadas ou não são escutadas porque não têm nada para dizer. Contempla-se uma Igreja que precisa de dar sempre primeiros passos nos contextos atuais, com firmeza e persistência na capacidade de escutar, inclusivamente, as vozes discordantes com a corrente maioritária. É preciso continuar a favorecer espaços de diálogo e partilha que não se deixem obstaculizar por egocentrismos ou abusos de poder, de onde derivam as faltas de paciência, de humildade, o preconceito, a indiferença, a gestão do tempo, a competitividade, o consumismo e as ideias fabricadas pela sociedade, apontados como os maiores obstáculos à escuta do outro e de nós.

FALAR/COMUNICAÇÃO. Salientando os aspetos positivos de uma Igreja que sabe comunicar, sugere-se que use ainda mais meios para chegar a mais pessoas fora da Igreja e comunique mais a Igreja universal para além do que acontece nas paróquias. As respostas revelam que há uma grande vontade de que os grupos de formação e diálogo continuem a favorecer-se, por neles se alimentar o sentido de pertença, necessidade natural da pessoa. Na comunicação interna, avalia-se que se pode proclamar melhor a Palavra e cantar melhor na Liturgia. Dá-se conta de que o poder da palavra está, sobretudo, no padre e nos seus colaboradores, assim como nas pessoas que são mais assíduas à formação. Chama-se a atenção para a falta de verdade nalguns relacionamentos e para a falta de coragem em denunciar o que está errado. Por vezes, nota-se a comunidade da Igreja como instituição muito protecionista, reservada e com grande opacidade na comunicação em geral. Há quem refira que a comunicação nem sempre é clara, que deveria ser mais simples, mais cativante e sem cansar os fiéis. Deveria haver mais abertura, diálogo e testemunho, tanto dentro como fora da Igreja.

LITURGIA. É a dimensão da Igreja que se refere como mais cuidada, salientando-se que é preciso fazer com que alguns membros das comunidades se devam sentir mais ativos na celebração, assim como se pode fazer mais com que outras pessoas se aproximem. Também se aponta como importante a relação entre a Catequese e a Liturgia, apontando-se como prioritário que os pais levem as crianças à Eucaristia, encontrando-se caminhos para que todos se sintam parte das celebrações. Sugere-se que se cuidem mais os templos, a acessibilidade dos cânticos a ser cantados por todos, assim como o equilíbrio do tempo em que decorrem as celebrações.  Considera-se que os templos têm as portas abertas para quem quiser entrar, mas falta de vontade de algumas pessoas para participarem nas celebrações, apesar de haver pontos de atração. Alguns dos que participam na Liturgia acusam algum desconforto por causa da falta de aquecimento e dos bancos onde se sentam. Sobre as homilias, opina-se algumas vezes que sejam mais breves e que sejam claras e preparadas.

PARTICIPAÇÃO. É comum dizer-se que a Igreja está aberta à participação, apontando-se algumas causas para algum défice de participação: vergonha, falta de cativação e formas de trabalho cooperativo. Porém, é muito relevante a afirmação de que não existe igualdade de género, apontando-se o exemplo de que as mulheres são as que mais participam, mas não lhes são conferidos papéis mais relevantes. Alguns inquéritos falam do “idadismo” quanto à discriminação dos mais jovens por parte dos mais idosos, levando a que a atividade evangelizadora da Igreja, no âmbito da Catequese, influencie o contrário na continuidade do Crisma. Nas formas de participação enunciadas, mostra-se uma visão fechada do que pode ser a variedade de âmbitos de participação na vida da Igreja.

ECUMENISMO. O conhecimento de outras confissões cristãs é baixo e um pouco teórico. Contudo, existe abertura para que se faça alguma coisa em comum, desde que seja para o bem de todos, dentro do espírito ecuménico. Sublinha-se que um ponto de encontro possível é o da caridade e da solidariedade.

ENVOLVIMENTO. A maioria dos inquiridos dizem sentir-se envolvidos na Igreja, se bem que é notória a falta de entendimento de Igreja como comunidade cristã. Quanto às possibilidades de as pessoas poderem dar a sua opinião, as respostas dividem-se entre os que entendem que é no diálogo que o podem fazer e os que preferem a participação em formas anónimas de dar opinião. A falta de sacerdotes e a desunião entre as pessoas são fatores que atrasam um maior envolvimento entre todos os membros da comunidade.

TRANSPARÊNCIA. A maioria dos depoimentos afirma que a Igreja é transparente. Há quem afirme que a transparência não é total, não sabendo, porém, concretizar em quê. Contudo, alguns concretizam nos seguintes aspetos em que se considera que a Igreja não é ou não foi transparente: apresentação de contas, o abuso de poder/sexual, na nomeação dos membros que ocupam cargos/serviços.

CAMINHAR JUNTOS. Sugere-se que a iniciativa pessoal é fundamental, assim como uma abertura da comunidade à participação de todos. É importante prestar mais atenção à vida das pessoas que necessitam ou pedem ajuda. As pessoas manifestam a vontade de ser pessoalmente convocadas.

2.3. Assuntos que criaram mais tensão ou discordância

A COMUNICAÇÃO da Igreja é considerada por uns como bem-sucedida e por outros como afastada e que nem sempre chega a todos. Uns sentem que o pároco expressa uma mensagem que ajuda a encarar os desafios da vida, mas também se declara que o pároco deveria ter mais tempo para ouvir as pessoas. Apesar de a Igreja estar aberta a todos, considera-se que as pessoas divorciadas deveriam poder comungar na Eucaristia.

CLERICALISMO. Atravessa muitas respostas recolhidas a ideia de que é o padre o centro da vida pastoral nas comunidades. Porém, nota-se alguma letargia pela forma como se vê o papel do padre, muitas vezes isolado e outras vezes rodeado pelo mesmo grupo, que não se sabe como foi escolhido e que se perpetua.

GRUPOS. Nota-se uma certa ambivalência quanto à consideração da importância dos grupos e movimentos em que se faz a experiência espiritual, na medida em que os grupos são vistos como a forma mais fácil de integração e aprofundamento da fé, e participação na vida da paróquia, mas ao mesmo tempo se critica que alguns grupos e movimentos constituem-se guetos. Alguns grupos trabalham “as suas dinâmicas sem comunhão”.

2.4. Pontos de vista

  • Uma afirmação relevante que apareceu foi: “sozinhos podemos ir rápido, mas juntos vamos mais longe”.
  • Alguns declaram que deveria haver melhor gestão e conservação do património.
  • Algumas pessoas questionam o celibato sacerdotal, entendendo-o como limitador da sua missão ou obstáculo da profundidade de determinadas dimensões da missão.

2.5. Aspetos positivos mais relevantes

  • Muitas pessoas manifestam fome de formação, sublinhando muito que ela deve estar assente no conhecimento da Bíblia, e concretamente sobre o desenvolvimento dos sacramentos, em particular a Eucaristia, o Batismo, o Matrimónio, a Confissão.
  • Da pouca experiência de sinodalidade, esta é considerada positiva e carece de continuidade.

2.6. Aspetos negativos mais relevantes

Esperava-se mais participação nas respostas aos inquéritos. Apesar de a maioria das pessoas se sentir parte do caminho da Igreja, há elementos que sentem que a Igreja não os apoia. Há pessoas que se sentem escutadas, mas veem que as suas opiniões não são suficientemente valorizadas, multiplicando os receios em se exporem opiniões pessoais.

Grande parte dos inquéritos revela uma preocupação pelo papel do pároco, afirmando como negativa alguma indisponibilidade por causa dos muitos afazeres, sublinhando que ele mesmo deverá ser pastor e não gestor, sabendo delegar mais nos leigos, com quem poderá partilhar a experiência do caminho, no diálogo e no discernimento. Assim, também despista o clericalismo próprio de quem decide sozinho, isoladamente, e sem a partilha dos paroquianos. Acrescenta-se, a este respeito, como negativa, a incoerência entre o que o padre recomenda e o que ele faz. Esta incoerência também é referida em relação a alguns leigos.

3) VISÃO DA IGREJA ATUAL E PROPOSTAS DE MUDANÇA

Sintetiza-se esta visão e propostas nos seguintes pontos:

  • Cada pessoa colocar-se no lugar do outro (empatia).
  • Uma Igreja mais aberta e presente na sociedade.
  • Mais união, compreensão e unidade.
  • Uma Igreja mais missionária, mais evangelizadora, menos moralizante e burocrática.
  • Uma Igreja mais profética (anúncio do bem e denúncia do mal) e menos sacramentalista (vivência “mágica” dos sacramentos).
  • Mais formação baseada na escuta da Palavra de Deus.
  • Atividades mais dinâmicas, atividades de lazer e convívio que incentivem os jovens à participação.
  • Encontros com leigos, diálogo e proximidade: a Igreja terá de sair mais de si mesma, estar mais no terreno, junto das pessoas, não a comandar; que seja a Igreja de Jesus Cristo e não dos homens.
  • Contacto com líderes e oradores de outras religiões.
  • Mais dinamismos intergeracionais na pastoral das comunidades.
  • Dar voz às minorias e aos excluídos, através de: pastoral, centro social e movimentos da Igreja, padre, recolha de donativos, voluntariado, alojamento.
  • Manter gestos de escuta contínua e aberta nas paróquias, nem que seja meramente a partir de uma “caixa de sugestões”.
  • Comunicar mais e melhor, com uma linguagem clara e o mais aberta possível, usando todos os meios à disposição, para que a mensagem chegue mais longe (internet, boletins paroquiais, etc.).
  • Valorizar os ministérios na Igreja já há muito ativados pelo Concílio Vaticano II, para atuar em diferentes âmbitos da missão.
  • Para não permanecermos na desilusão de que se fique por estatísticas ou proposta de síntese a enviar, auguramos que as pessoas envolvidas nesta escuta se sintam missionárias, entusiasmando outras à sua volta, para que o caminho continue.

EM JEITO DE CONCLUSÃO E RESPONDENDO À PERGUNTA FUNDAMENTAL

Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal “caminha em conjunto”: Como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje na nossa Igreja (paróquia/diocese)? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?

(Doc. Preparatório, 26)

Resposta à pergunta fundamental do Sínodo

Alguns tópicos fundamentais:

A Comissão do Sínodo apresentou a redação e a conclusão das respostas obtidas no processo de auscultação ao povo de Deus, nesta Igreja Particular de Viseu em caminho sinodal.

O Documento que será enviado à Conferência Episcopal Portuguesa, é fruto do estudo e da reflexão sobre as perguntas respondidas pelo povo de Deus. A elaboração da síntese manifesta o compromisso profético e o dinamismo missionário e sinodal partilhado pelas respostas que nos chegaram. O texto deve inquietar-nos a todos sobre o futuro da pastoral de toda a Diocese, tornando-se um instrumento precioso de trabalho para o futuro.

Para facilitar uma resposta àquela pergunta fundamental, para que possa ser dada de modo realista e criativa por todo o povo de Deus ao longo deste processo sinodal, deixo ainda estas três questões: Que consciência têm de ser Igreja os batizados que vivem na Diocese de Viseu? Como vivem a fé e dela dão testemunho na família, na paróquia e nos diversos ambientes eclesiais e sociais?  Qual é o seu compromisso fraterno e social na comunicação da fé, dos valores e no testemunho da vida cristã?

A resposta às perguntas propostas pelo Sínodo, devem interpelar e inquietar os pastores e os agentes pastorais de modo a promover a conversão pessoal e a renovação pastoral almejada por todos.

Diante de uma Igreja que está no meio do mundo, é importante potencializar as estruturas da Diocese para viver a comunhão, a corresponsabilidade, a participação, a missão nas decisões de governo, de administração e de gestão dos serviços. Hoje somos chamados a responder sobre o lugar da pastoral profética, litúrgica e caritativa numa Igreja “em saída”.

A avaliação do desempenho e a importância dos Conselhos dos Assuntos Económicos na vida das paróquias, a vitalidade e operacionalidade dos Conselhos Pastorais Paroquiais, Arciprestais e Diocesanos são vitais para o caminho sinodal. As decisões pastorais tomadas em conjunto são de extrema importância para uma eficaz programação, execução e avaliação dos respetivos programas pastorais. As estruturas de comunhão são indispensáveis para a renovação do serviço pastoral nas paróquias.

Os Conselhos, onde já existem, devem ser renovados e, onde não existem, devem ser criados, logo que seja possível para uma melhor eficácia de um trabalho que nos pede para caminhar juntos ─ pastores, leigos e consagrados ─, dando prioridade ao trabalho em rede, onde todos os colaboradores das comunidades se sintam motivados e responsáveis na missão.

Fomentar de modo efetivo e frutuoso um diálogo aberto e franco com todos, de maneira a responder aos desafios pastorais que cada comunidade vive.

As paróquias debatem-se, hoje, com problemas tão graves, a todos os níveis, cuja busca de respostas ou soluções não podem ser adiadas. Enfrentá-los com coragem, lucidez e zelo apostólico é uma interpelação do Espírito Santo. É preciso investir mais na formação do Povo de Deus, alterando a rotina pastoral das comunidades que estagnaram no tempo, faltando-lhes ousadia e coragem para promover o caminho de discernimento.

A vida cristã autêntica não pode identificar-se com um cristianismo estático, com uma Igreja fechada em si mesma, pouco criativa e sem propostas de inovação pastoral. A ausência de espaços de escuta, de diálogo e de comunhão não favorece a unidade, a proximidade e a relação fraterna com todos.

 A falta de motivação presente na vida de alguns sacerdotes afeta a capacidade de programar, organizar e executar o trabalho sonhado em conjunto.

Apesar de tudo, temos estruturas que funcionam, mas não realizam a sua missão específica, por falta de compromisso, disponibilidade interior, capacidade de diálogo e de interação entre os membros da comunidade.

A renovação pastoral torna-se assim um indicativo forte para a mudança de mentalidade, de coração e da vida concreta das pessoas. A conversão evangélica torna-se urgente, inadiável, a reclamar novos gestos de humildade, simplicidade, verdade, honestidade, transparência, hospitalidade, fraternidade e solidariedade evangélica.

O rigor intelectual que colocamos na missão que nos foi confiada pela Igreja, não pode ignorar o azedume e a indiferença de muitas pessoas, que com facilidade se queixam de nós. Muitos desses leigos são os nossos próximos colaboradores. Quebrou-se a comunicação, que deu lugar à falta de confiança entre os pastores e os leigos, provocando assim diversas situações de rotura, de abandono e de incompatibilidade na relação.

As dificuldades vividas na sociedade atual, consequência da pandemia, da pobreza e da guerra não podem servir de desculpa para tudo. No contexto eclesial, deparamo-nos com problemas internos na vida da Igreja, que não podemos ignorar. Ao nível da nossa diocese, constatamos também o desmoronar-se de algumas paróquias e comunidades, a dificuldade de alguns sacerdotes aceitarem mais serviços, a diminuição drástica do número de seminaristas, da falta de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, a angústia de não se rentabilizarem os nossos seminários e centros de vida cristã, o encerramento de comunidades de vida consagrada e a diminuição de sacerdotes são dificuldades que não podemos ignorar.

As dificuldades de integração dos que chegam de fora em missão, a falta de empenho das famílias, as dificuldades da escola, a cultura vigente na nossa sociedade, são fatores que levam as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos a terem dificuldade em seguir os ensinamentos da Igreja. Outras áreas da pastoral não podem ser ignoradas e a pastoral social e da saúde requerem uma atenção particular. São conhecidos de todos os problemas na área da gestão e do equilíbrio financeiro das paróquias. Os Centros Sociais Paroquiais e as Cáritas Paroquiais e Diocesana não são isentas destas dificuldades e constrangimentos económicos. Torna-se urgente a formação organizada nesta área, quer dos membros das direções, quer dos próprios funcionários. Tenho pena das Instituições Particulares de Solidariedade Social, pois muitas não veem da parte do Estado o aumento nas suas comparticipações. É de lamentar que, a nível diocesano, não se tenha avançado o projeto da Federação das Instituições Particulares de Solidariedade Social da Diocese, pois muitas se não forem comparticipadas pelo Estado, de modo diferente, correm o risco de se tornarem insustentáveis e muitas podem mesmo ir para a insolvência. Preocupa-me o estado em que se encontram algumas direções, a dificuldade que as pessoas têm em assumir as próprias orientações. Nesta área pastoral, como em tantas outras, ninguém é dono de nada, somos apenas chamados a administrar bem, servindo as pessoas que nos são confiadas. É preciso humildade para conhecer bem os desafios que nos são colocados em cada dia, para salvaguardar o bem dos utentes, dos funcionários e da instituição. O segredo da sustentabilidade das próprias instituições é o grande desafio do bem comum e da transparência do Evangelho.

As respostas recebidas e agora compendiadas são para todos um diagnóstico conhecido de uma realidade perante a qual não devemos ficar indiferentes. A maioria das nossas comunidades enfrenta uma falta de coragem para fazer a mudança, resiste à renovação da fé, acabando por cair numa sociedade de cansaço, caracterizada pela estagnação,  o saudosismo e até um certo constrangimento financeiro.

Não podemos ignorar os sinais alarmantes e preocupantes do nosso mundo, nem contentar-nos com o que fazemos bem, pois há muita coisa a mudar em nós. As respostas dão-nos pistas importantes, mas não podemos deixar de fazer o caminho sinodal que iniciámos em boa hora. Quero que este momento seja de esperança e de compromisso, pois “não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos, sendo necessário passar de uma pastoral de mera conversão para uma pastoral decididamente missionária”(EG 15).

Esta decisão e missão continua a ser a fonte inspiradora das maiores alegrias para a Igreja diocesana. Esta minha reflexão enquadra-se no contexto de resposta à pergunta fundamental do inquérito sobre a responsabilidade de anunciar o Evangelho, hoje, nas paróquias e na diocese.

Todos juntos vamos escutar, acolher, refletir, avaliar e realizar o caminho juntos de “comunhão, participação e missão” iniciado pelo povo de Deus. Conscientes de que estamos todos “na mesma barca e de que ninguém se salva sozinho”, como afirmou o Papa Francisco, torna-se necessário assumir com fidelidade criativa o lugar que deve ocupar a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.

Os cristãos animados pela ação do Espírito Santo são chamados a realizar este processo contínuo de conversão e de renovação pastoral com o compromisso de “Anunciar o Evangelho”. Continuando esta reflexão, não posso deixar de fazer referência ao próximo ano pastoral dedicado ao Sacramento do Crisma, como processo de reflexão sobre a iniciação cristã. Há um trabalho grande a fazer ao nível da preparação, da celebração, da partilha de conteúdos e até da verdadeira consciência da importância e grandeza deste Sacramento.  Nas celebrações do Crisma, reconheço o esforço feito pelos párocos, catequistas, famílias, paróquias, pais, padrinhos, e até pelos adolescentes e jovens para viverem bem a celebração. É uma preocupação assumida, mas depois fica o problema existencial da perseverança na fé, da inserção na vida da Igreja, da continuidade na paróquia, na fidelidade e compromisso à própria Igreja. A reflexão feita acerca dos sacramentos da iniciação cristã pode dar-nos uma possível leitura sobre este tema. É necessário um trabalho mais concertado e de conjunto, assumido por todos e que dê prioridade pastoral às famílias, aos jovens e às vocações.

A família, célula base da sociedade, é chamada a ser uma comunidade de fé, de vida e de amor. Os jovens em “caminhada juntos” para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, de 1 a 6 de agosto, acolhidos e ajudados por nós, são o desafio pastoral mais imediato e emergente para as nossas comunidades. Sem famílias cristãs boas, que sejam uma escola de valores e de oração, não teremos bons jovens, nem verdadeiras vocações sacerdotais e de consagração.

A diminuição do clero e o seu envelhecimento, a falta de compromisso e empenhamento dos leigos, leva muitos cristãos a questionar-se sobre as estruturas de governo, de processos de evangelização e catequese, de celebração e espiritualidade e de testemunho da caridade. Constatamos que sem sacerdotes, os nossos cristãos têm dificuldade em caminhar juntos e construir a missão da Igreja.

A reflexão agora feita, convida-nos a abrir o coração a um conjunto de temas, que vão marcar o ritmo da vida pastoral e do plano diocesano assumido para os próximos anos. Esses indicadores referidos como prioritários e urgentes na elaboração de todo o trabalho pastoral a realizar na Diocese de Viseu, para anunciar o Evangelho, são desafios que, pela graça do Espírito Santo, nos convidam a dar atenção à necessidade de crescer e de “caminhar juntos” (DP 26).

Alguns temas fundamentais para nos ajudarem a construir o caminho sinodal:

  1. A necessidade urgente de “acompanhantes no caminho” da fé e no percurso de vida cristã em espírito e “caminho sinodal”;
  2. Saber “escutar” o outro, seja quem for, com sensibilidade e honestidade em querer ajudar.
  3. Pôr no centro da comunicação o “falar” com arte e ousadia, facilitando o diálogo criativo e operativo entre as instituições.
  4. “Celebrar”, como ponto de chegada e partida dos dinamismos da Catequese, da Família, os Jovens e a busca Vocacional.
  5. Assumir mais a “participação” como dinamismo da missão, em que ninguém se possa sentir descartado ou assumir dispensado.
  6. O “ecumenismo” também pode ser um indicador de uma Igreja particular “em saída”.
  7. O “envolvimento” de todos nas decisões pastorais pode ser um sinal de uma Igreja sinodal renovada.
  8. A “transparência” é um caminho que devemos assumir como prioritário na vida pessoal e eclesial, para que a Igreja apareça credível no tempo presente.
  9. O “caminhar juntos” é algo próprio da essência da Igreja, que nunca podemos esquecer, pois tornou-se hoje para cada um de nós, o maior desafio sinodal, capaz de integrar todos no discernimento do caminho eclesial, assim como dissipar inimigos da evangelização como o clericalismo e o grupismo.

O futuro da Igreja e a realização da sua missão evangelizadora, como casa de acolhimento para todos, só é possível se soubermos dar as mãos e “caminhar juntos”. “Sozinhos podemos ir rápido, mas juntos vamos mais longe”. Que Maria Mãe de Jesus, São José, São Teotónio e a Beata Rita Amada de Jesus nos ajudem a descobrir a alegria de “caminhar juntos” na fé, na esperança e na caridade.

Este é o grande desafio sinodal: crescer e “caminhar juntos”, na “Comunhão, na Participação e na Missão” da Igreja Diocesana de Viseu.

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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